- O médico acha que é no intestino, agora.
- Como assim, acha?
- Mandou fazer uns exames, mas tem todos os sintomas. Me disseram que a radioterapia ali perto... sabe? - faz um gesto indicando - pode acontecer...
- Mano, o vô vai morrer.
- Vai.
Foi ele que me disse mas, desnorteantemente, ao mesmo tempo me ocorreu que meu irmão ainda não tinha entendido. "Vai", ele concordou, com o mesmo constrangido ar grave meu e de todo mundo ao falar nessas coisas: morrer.
"Ele só tem 19 anos", pensei, e antes de completar o pensamento me dei conta,"...de vida". Mais uma vez diante de uma situação como essa, estou perplexo ante o óbvio que soa até ridículo: não temos experiência de morte. Aliás, morte parece mesmo algo como isto, anti-experiência. Em relação a ela tenho os olhos arregalados e as pupilas monstruosamente dilatadas de quem quer ver no escuro. Não vejo, como todos ou, ninguém. Também não vejo e não apreendo o que mal me pode ser dito. Ninguém alcança. Meu irmão, eu, ou meu avô - que ainda não morremos - nenhum de nós têm sequer um segundo de morte. Mas entre nós todos, continuamos sentindo-a mover-se furiosamente, suavemente...