sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Amor aos fatos

Sobre o Werther, seus extremos de humor e porque o movimento romântico se esgotou.
A esse jovem, intenso e apaixonado, foi negado o paraíso e, por isso, só lhe restava o inferno. Não lhe ocorreu que estando fora a possibilidade de ter sua adoradíssima e perfeita Carlota nos braços, para não cair na total escuridão miserável, sua vida poderia ter sido simplesmente neutra e boa? O que mais quer o ser humano? É possível descobrir? E quando descobre, sua situação é extrema igual a do pobre Werther?
A miséria humana não me salta aos olhos, realmente. No entanto, esse assunto que é para mim constante, ainda que intermitente, retorna sempre através do impressionar-se com algum aspecto da realidade justamente porque tinha passado a maior parte do tempo oculto. O mesmo vale para o contrário disso. Agora, por exemplo, me ocorre de estar encantado e surpreso de que algo no final desta tarde me traga satisfação. Um momento da vida ordinária e coletiva que, Deus me livre de racionalizar, se revelou e me fez sorrir. O lúdico e o lírico são criados por meus olhos, mas também estão no mundo. E isso me faz ver que exatamente o mesmo vale para o miserável e o ridículo...
Apesar disso, não vivo numa interjeição ininterrupta. Para mim é necessário que a maior parte do que vejo seja suportável e, mesmo, de uma certa nulidade. Como é impossível uma vida toda num correr de lástimas (vide o desfecho do romance citado), do mesmo modo agüentaria alguém, mesmo o desmiolado Werther "ver surgir o paraíso a cada passo, (...) numa vida de adoração continua"?

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