Poesia não é para nada.
Poesia tu juntas pela rua
toma banho, esquece,
e sai pelado.
Poesia me tira a vontade
poesia não vem
(me afasta)
É para não ter graça
tira a casca e engole crua.
Não é luz dourada, não é âmbar e nácar
é madeira verde, nem talhada
escultura magnética
estátua de Budha em terracota
miolo de pão.
Tu a vês ali,
e nem era o altar que preparaste pra ela.
Poesia não vende: compra.
Mentira, não compra,
dá a si mesma e não fica.
Vê-la, se quer-se, é muita.
Para dizê-la, todavia, sobre-rara
Sequer coisa que anda, chama e espera.
Tenha olhos, a veja, e vá a seu encontro.
E que o resto seja dela.
Respiração é espaço descampado. É ter onde esperar. É um lugar de onde se pode ver quem chega.
sábado, 4 de dezembro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Cabalística
V (do Rogário)
Uma senhora muito sábia,
feia e velha
percebeu de que coisas magras
meu amor era composto
me atirou um laço de boa fita ao peito
para que eu o desatasse quando ficasse satisfeito
e o refizesse só quando houvesse desgosto.
Uma senhora muito sábia,
feia e velha
percebeu de que coisas magras
meu amor era composto
me atirou um laço de boa fita ao peito
para que eu o desatasse quando ficasse satisfeito
e o refizesse só quando houvesse desgosto.
sábado, 25 de setembro de 2010
sábado, 11 de setembro de 2010
Odalisca Andróide
Por alguma vaidade, vou revelar àqueles alguns que sei que me lêem, que irão se decepcionar, talvez, com esse novo post. É que, após meses, em vez de originalidade, traz só citação. Ok, mas é uma citação nova, no sentido de ser das que eu não faria até pouco tempo.
Um texto de Fausto Fawcett (sim, ele mesmo), que descobri aqui.
Dêem atenção à Bethânia, não a mim.
Um texto de Fausto Fawcett (sim, ele mesmo), que descobri aqui.
Dêem atenção à Bethânia, não a mim.
Odalisca Andróide:
"Eu estou sempre aqui, olhando pela janela. Não vejo arranhões no céu nem discos voadores. Os céus estão explorados mas vazios.
Existe um biombo de ossos perto daqui. Eu acho que estou meio sangrando.
Eu já sei, não precisa me dizer. Eu sou um fragmento gótico. Eu sou um castelo projetado. Eu sou um slide no meio do deserto. Eu sempre quis ser isso mesmo. Uma adolescente nua, que nunca viu discos voadores, e que acaba capturada por um trovador de fala cinematográfica. Eu sempre quis isso mesmo: armar hieróglifos com pedaços de tudo, restos de filmes, gestos de rua, gravações de rádio, fragmentos de tv.
Mas eu sei que os meus lábios são transmutação de alguma coisa planetária. Quando eu beijo eu improviso mundos molhados. Aciono gametas guardados. Eu sou a transmutação de alguma coisa eletrônica. Uma notícia de saturno esquecida, uma pulseira de temperaturas, um manequim mutilado, uma odalisca andróide que tinha uma grande dor, que improvisou com restos de cinema e com seu amor, um disco voador".
Júlia, sabe aquele papo sobre a Nova Mítica? Pois é...
"Eu estou sempre aqui, olhando pela janela. Não vejo arranhões no céu nem discos voadores. Os céus estão explorados mas vazios.
Existe um biombo de ossos perto daqui. Eu acho que estou meio sangrando.
Eu já sei, não precisa me dizer. Eu sou um fragmento gótico. Eu sou um castelo projetado. Eu sou um slide no meio do deserto. Eu sempre quis ser isso mesmo. Uma adolescente nua, que nunca viu discos voadores, e que acaba capturada por um trovador de fala cinematográfica. Eu sempre quis isso mesmo: armar hieróglifos com pedaços de tudo, restos de filmes, gestos de rua, gravações de rádio, fragmentos de tv.
Mas eu sei que os meus lábios são transmutação de alguma coisa planetária. Quando eu beijo eu improviso mundos molhados. Aciono gametas guardados. Eu sou a transmutação de alguma coisa eletrônica. Uma notícia de saturno esquecida, uma pulseira de temperaturas, um manequim mutilado, uma odalisca andróide que tinha uma grande dor, que improvisou com restos de cinema e com seu amor, um disco voador".
Júlia, sabe aquele papo sobre a Nova Mítica? Pois é...
terça-feira, 13 de abril de 2010
Série de Águas III
Sangria de décadas, estátua de bronze.
Não tive fôlego de manter os olhos no navio enferrujando, lentamente, à beira do cais.
O tempo em farelos de sangue.
A ferrugem do cobre é verde, porém.
A velhice se colou em ti nessa cor azeda.
Uma causa antiga de ternura, dor ou sonho,
que desse valor ao teu olhar de sabão, estátua de bronze,
Lá no rio lembrada, o casco vermelho ia arrebentar.
Não tive fôlego de manter os olhos no navio enferrujando, lentamente, à beira do cais.
O tempo em farelos de sangue.
A ferrugem do cobre é verde, porém.
A velhice se colou em ti nessa cor azeda.
Uma causa antiga de ternura, dor ou sonho,
que desse valor ao teu olhar de sabão, estátua de bronze,
Lá no rio lembrada, o casco vermelho ia arrebentar.
terça-feira, 30 de março de 2010
Sou um dos portadores do ovo que desconheço. Há tempos já recebeu um nome, é o Ovo. Não fui eu quem o deu, e um nome, se sabe, pode ser dado para nada. O Nada, por exemplo, às vezes é um nome. Porto um ovo, todavia, mal o sabendo dizer como já o disseram antes e melhor.
Não escrevo senão estranhando os sentidos. Reformando as palavras. Tateando sempre um novo nome para o que conheço plenamente. Sensitivamente interno e mineral. Matéria pura. Que desconheço, no entanto, positivamente, desconformadamente, em um sentido reto e verbal. Coisa absolutamente real e sem forma. Gestação inacessível que não seria mais angústia se se tornasse enfim a postura real do objeto por ora amorfo, mas natural.
* * *
Há um excesso de imagens em tudo o que eu expresso. Talvez por muita ânsia em trabalhar tudo o que eu absorvo. Procuro muito. Vejo muito. Aí concluo que expresso pouco, ou mal ao menos. Talvez seja o caso de comer menos. Minha cabeça demonstra no que pesa o tamanho de seus excessos. É tempo apenas de ficar parado e não ouvir, não ver, não tocar mais. E trabalhar com o que há. É o caso, porém, que me encontro superestimulado. Não vejo satisfação duradoura da minha ânsia em possuir alguma coisa. É tudo imperdível, tudo priorizável e torna-se impossível caminhar sobre somente uma trilha, trilho. A priorização, aliás é sempre extrínseca. Só encontro ordenamentos que vêm de fora, aí é opressão e eu sou, mais do que o resto, um rebelde. Torno-me, por isso, a imagem ideal da geração superficiosa, hiperativa e fragmentária. Estou obeso por dentro.
Não escrevo senão estranhando os sentidos. Reformando as palavras. Tateando sempre um novo nome para o que conheço plenamente. Sensitivamente interno e mineral. Matéria pura. Que desconheço, no entanto, positivamente, desconformadamente, em um sentido reto e verbal. Coisa absolutamente real e sem forma. Gestação inacessível que não seria mais angústia se se tornasse enfim a postura real do objeto por ora amorfo, mas natural.
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Há um excesso de imagens em tudo o que eu expresso. Talvez por muita ânsia em trabalhar tudo o que eu absorvo. Procuro muito. Vejo muito. Aí concluo que expresso pouco, ou mal ao menos. Talvez seja o caso de comer menos. Minha cabeça demonstra no que pesa o tamanho de seus excessos. É tempo apenas de ficar parado e não ouvir, não ver, não tocar mais. E trabalhar com o que há. É o caso, porém, que me encontro superestimulado. Não vejo satisfação duradoura da minha ânsia em possuir alguma coisa. É tudo imperdível, tudo priorizável e torna-se impossível caminhar sobre somente uma trilha, trilho. A priorização, aliás é sempre extrínseca. Só encontro ordenamentos que vêm de fora, aí é opressão e eu sou, mais do que o resto, um rebelde. Torno-me, por isso, a imagem ideal da geração superficiosa, hiperativa e fragmentária. Estou obeso por dentro.
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