Ter um sentimento de fuga é menos patético que o próprio momento que o gerou. E isso que acabei de dizer não quer dizer nada. Ou, só não é o que quero dizer. Não sei o que quero. Quero dizer a realidade de dentro, ser compreendido e isso ser belo. No entanto, apesar de o sentir bem, não vejo o de dentro: já sei que toda suposta compreensão é um espelho e não conheço o mecanismo que torna um momento belo. Ele o é, apenas.
Ter nas mãos uma destas nuvens fofas que vejo pela janela me daria um pouco disto que busco. Terminei de pensar isto e passei por um túnel: perdi de vista no instante do surgimento de um desejo, o objeto próprio deste desejo. Está em teoria de qualquer coisa psicológica, isto é uma alegoria.
A alegoria da nuvem. Mas eu não quero mesmo que ela seja mais do que uma fantasia, em dois sentidos desta palavra. Uma representação que adorna, um enfeite para o de dentro da minha cabeça que detesta o cinzento da própria massa de que é feito. A alegoria da nuvem branca e fofa na mão. A minha mão azul e brilhante para que a cena não seja de incompleta mágica. E alegria quase visível pairando. Coisa de deus hindu.
O lugar para onde estou fugindo precisa da alegria desta imagem. 'Alegria da alegoria', poderia ser o título. Acho que é. Porque me lembrei agora da alegria que também já me deram, há um tempo, a brincadeira com algumas aliterações. Mas acho que nunca tinha pensado nesta. E esta alegria lembrada também é um pouco o que busco agora. A alegria, não as palavras dela. Só queria fuga para um lugar onde tudo o que eu preciso me encontrasse e viesse a mim sem palavras.
Imagem: "Cantiga de Embalar" - Mariah
3 comentários:
todo sentimento é maior que a realidade que o formou. eu acho, pelo menos.
pois eu, que sou guilherme, li esse comentário e achei: hmm, eu já tinha comentado - porque isso era exatamente o que ia sair da minha boca, ou melhor, dos meus dedos...
que coisa estranha.
Nomes que condicionam um modo de pensar...
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