Eu tenho sido ingênuo, e talvez um pouco romântico até, em relação à minha significação do mundo e ao modo como me expresso e expresso o que me toca. Tudo é muito banal. E as noções envolvidas, flagrantemente pedestres. O caso é que a comoção, porém, poucas vezes a tenho sentido tão autêntica. Eu não tenho mais medo. Estarei tranqüilo, ainda que em perigo.
De alguma forma - e se encontra muito claro este item - nada mudou no que diz respeito aos emaranhados espirais que vejo subir e fosforecer pelos ares, e na necessidade de formar sentido no complexo cotidiano que me estarrece e se impõe como impressão do real mas somente explicada, ou apenas dita, para ser sincero, de modo um pouco mítico.
Isso tudo ainda me acontece e atordoa. Ainda me sinto inábil com o mundo. No entanto, agora fico mais à vontade com meus escuros, meus pontos cegos e ruídos ensurdecedores. Estou aprendendo a, matematicamente, em vez de contemplar numa mesma imagem que faço do mundo, conjuntos inteiros de possibilidades sem excluir nenhum elemento destes, substituí-los inteiramente por uma variável qualquer. Nem tudo precisa ter nome. E tudo permanecerá belo, se o for.