quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sobre o valor estético dos fatos, as pessoas e eu, e... Dorian?

Pessoa.

Ainda a respeito de como terminar aquela história e de como era esperado que as coisas tivessem sido(continuo com este problema de sempre voltar num assunto), me ocorreu de escrever algo assim:

'E a despedida nossa, promessa grandiosa de desespero e emoção à italiana, se esfacelou em pormenores vulgares'.

Aí, mais tarde, no mesmo dia, eu me deparei com isso no Dorian Gray:
"(...)Por que não consigo sentir esta tragédia tão profundamente como desejaria? Que te parece?
(...)
- Para mim a verdadeira explicação é a seguinte: acontece muitas vezes que as tragédias reais da vida ocorrem de maneira pouco artística e nos ferem pela sua violência rude, sua incoerência total; pela ausência absurda de significação e absoluta falta de estilo. Afetam-nos exatamente como pode nos afetar a vulgaridade. Causam impressão de força bruta que nos revolta. Às vezes, porém, a tragédia dotada de elementos de beleza artística atravessa-nos a vida. Se esses elementos de beleza forem reais, o drama apela para o nosso senso de efeito dramático; de súbito, percebemos que já não somos atores e sim expectadores da tragédia. Ou melhor: somos uma e outra coisa. Contemplamo-nos, e a simples singularidade do espetáculo cativa-nos. No caso presente, que aconteceu de fato? Alguém suicidou-se por amor a você. Quem me dera ter tido alguma vez esta sensação!"

Olha, Pessoa. Nisso tudo, digo do real já ido, vês também o horror que se transfigura em graça desmedida? Ou foi só constrangimento insensato mesmo? E o contrário disso e todo o resto que ainda somos, que é?

5 comentários:

Lilly disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lilly disse...

Boa perspectiva. Outros motivos são: quem sente não é dado a dramas italianos. Ou, utiliza-se os pormenores como fuga para evitar o drama real. A gente se preocupa demais com as aparências ou com o que os outros esperam da gente. Até na hora de sofrer, veja só.

André Lima disse...

Pois é, Lilly! A gente se preocupa. Ponto. Estes tempos, num post teu que eu não comentei vi que tu falavas de ser o que queremos ou o que os outros esperam da gente e tal. Bom, neste caso, e no caso deste romance que eu citei, justamente se fala da necessidade de as coisas, e as pessoas, e os fatos da vida terem um valor estético diante de nossos olhos, ainda que sejamos nós mesmos atores e eexpextadores da trama. Sabe, queremos saber se nossa vida é bela ou não, e fazer dela algo seja valoroso de ver, ainda quando há sofrimento. Talvez mais ainda quando há sofrimento. Eu acho.

André Lima disse...

Enquanto isso, num canto da minha cabeça:

"Um comentário foi removido pelo autor, que curioso"...

Lilly disse...

rsrs.. era o mesmo comentário. Só que na rapidez da digitação eu escrevi "mais" ao invés de "demais" e veja só como mudava totalmente o sentido da frase. Então eu copiei e corrigi... ;)